Alibaba Group
 
Alibaba Group: O gigante asiático
 
Janeiro de 2020

 

Em dezembro de 2019 encontrei na mesa de meu sócio um livro chamado POR DENTRO DO ALIBABA[1], que me chamou muita atenção com sua capa alaranjada com um carrinho de compra. Pedi emprestado e comecei a ler, página por página, todos os dias, finalizei a leitura em 30 dias. Considerei-o um livro excelente, o que me fez procurar saber mais sobre Mǎ Yún (Jack Ma), o homem por trás do Grupo Alibaba, e após alguns estudos novamente me surpreendi, fato pelo qual decidi compartilhar um pouco dessas informações com vocês.

 

Mǎ Yún era o nome em chinês do criador do Grupo Alibaba, porém ele escolheu como seu pseudônimo Jack Ma; nome pelo qual será chamado a partir de agora no presente texto. Jack Ma nasceu em 1964, em Hancheu (China) era neto de um proprietário de terras e filho de artistas de pingtan[2]Logo após a morte de Mao Tsé-Tung, com a abertura da China para o mundo, muitos turistas iam a Hangzhou conhecer o Lago do Oeste[3], e quando Jack Ma descobriu o local passou a ir todos os dias ao parque de bicicleta para encontrar-se com turistas, para fazer novas amizades e para melhorar seu inglês.

 

Foi reprovado duas vezes antes de conseguir entrar na Universidade de Hangzhou, no Curso de Pedagogia, atuando depois de formado como professor de Inglês em uma universidade local.

 

Após uma viagem a Seattle, nos Estados Unidos, os amigos de Jack Ma o apresentaram à internet, e quando ele pesquisou pela primeira vez pela China e não encontrou nenhum resultado do país teve a ideia de divulgar as empresas chinesas em uma página na internet. Assim, quando voltou para a China, criou a China Page, mas encontrou alguns percalços pelo caminho, visto que em 1995 poucas pessoas tinham acesso à internet na China. Algum tempo depois, Jack Ma foi trabalhar em uma empresa que respondia ao Ministério do Comércio Exterior e Cooperação Econômicas da China, porém ele sentiu que não conseguiria crescer devido ao alto controle governamental, assim quando a Bolha da internet[4] começou crescer na China em 1999, Jack Ma convidou alguns amigos para seu apartamento e contou-lhes o sonho de seu novo empreendimento; uma ideia inusitada, em que vislumbrava uma China com várias indústrias onde as maiores dominavam o mercado de exportações e as menores tinham potencial para crescer. Tomado por essa ideia, criou, então, um E-commerce B2B onde os importadores podiam achar pequenas e médias empresas na China que teriam potencial de exportação, dando-lhe o nome de Alibaba e assim começou a trajetória que fez Jack Ma, ser considerado, em 2019, o Homem Mais Rico da China e o 21° do mundo, ambos pela Forbes.

 

No início, o site era voltado para comércio entre empresas .com[5], que realizavam negociações de minério de ferro, máquinas e equipamentos. Apesar de o site ter sucesso, havia um problema: ele não conseguia ganhar dinheiro, uma vez que sua utilização era gratuito. Foi então que Jack teve a ideia que o tornaria bilionário: cobrar para dar destaque aos anúncios.

 

Segundo dados da China link, um blog especializado no comércio da China, em 2017 o Alibaba.com contava com 250 milhões de compradores ativos na China, sendo o Grupo Alibaba responsável por 60% do volume de entregas no país. Neste ano, a marca foi eleita a 3ª chinesa com maior presença no mercado global, ficando atrás apenas da Lenovo (1º lugar) e Huawei (2º lugar).

 

É raro existir empreendedores que tiveram em sua trajetória o topo em constância, normalmente existem altos e baixos e com Jack Ma não foi diferente. Conforme Porter Erisman narra em seu livro, quando Jack Ma era perguntado se um dia iria escrever um livro com suas experiências ele respondia que se fosse escrever iria chama-lo Alibaba e os 1001 erros.

 

Seu primeiro momento ruim foi quando o “alibaba.com”, estava em pleno crescimento e ele optou por abrir um escritório no Vale do Silício(EUA) acreditando que seria muito melhor para que sua empresa ficasse conhecida não só no oriente, mas também no ocidente. Contudo, ocorreu um erro que ao ser analisado parece básico, entretanto, não foi levado em conta no início: o fuso horário. Quando o pessoal na China estava saindo do expediente para sua casa, o escritório nos Estados Unidos da América (EUA) abria e assim todas as trocas de informações e ações ficavam sempre um dia atrasadas. Diante disto, Jack Ma teve que ir para os Estados Unidos fechar o escritório do Vale do Silício e mandar todos os funcionários embora; conforme descrita por Porter Erisman essa foi uma decisão que Jack relutou até o último segundo e se não fosse tomada poderia acarretar no fechamento do site.

 

Um momento que apesar de ter tido um final feliz para Jack Ma, sugou-lhe muito sua de energia e de seu sono, foi quando o Ebay, em 2003, tentou entrar na China. Jack Ma percebeu que poderia ser um grande problema para o “alibaba.com”, com isso criou um segundo site de leilões na internet para concorrer com o e-bay chamado Taobao (taobao.com), seu maior diferencial quanto ao seu concorrente era que o Taobao seria gratuito por 3 anos enquanto o e-bay cobrava de seus usuários; outro grande diferencial é que no Taobao o vendedor e o comprador tinham um contato direto através de um chat.

 

Pode-se destacar que a guerra entre as duas gigantes da internet começou desde o lançamento uma vez que o ebay tinha maior número de assinantes, porém o taobao maior número de transações. Entre as diversas situações de disputa pode-se destacar a que ocorreu em um jantar entre Jack Ma e a Meg Whitman (CEO do Ebay) e os dois chefes da área de Relações Públicas das empresas (Porter Erisman do lado do Alibaba e Henry Gomez do lado do Ebay). A princípio o cenário parecia que seria de uma concorrência amigável, porém tudo mudou quando Ebay investiu em marketing pesado contra o Taobao divulgando a informação de que o site taobao possuía incentivo do governo e que não tinha política contra falsificação e contra produtos ilícitos. Entretanto, o Taobao conseguiu provar que sua política contra falsificações e produtos ilícitos era a mesma utilizada pelo Ebay.

 

Outro acontecimento que causou grande desgaste a Jack Ma foi na festa do Grupo Alibaba, em que o ex-presidente dos EUA Bill Clinton foi chamado para dar uma palestra aos funcionários do Grupo. Como o Ebay era um dos doadores da Fundação Clinton realizou uma campanha para que o ex-presidente não comparecesse ao evento encaminhando um arquivo de apresentação em Power Point com prints do site “alibaba.com” mostrando a venda de armas de fogo e de Urânio enriquecido, além de outras falsificações. Entretanto os responsáveis pelo site conseguiram reverter a situação provando que sempre era realizada uma varredura no site e que qualquer denúncia confirmada era banida. Diante desta informação o ex-presidente confirmou e proferiu a palestra.

 

Ao final dos três anos gratuitos do “taobao.com”, o Grupo Alibaba se juntou ao gigante da época - o Yahoo, assumindo as diretrizes do Yahoo China e recebendo 1 bilhão de dólares na junção; com isso Jack Ma anunciou que o site passaria a ser grátis por mais três anos e no seu discurso ainda lançou uma indireta ao Ebay: […]“‘grátis’ é o modelo de negócio certo para as atuais condições da China”. “Mas o taobao.com e um negócio e, como todo negócio sério, temos um plano robusto visando à rentabilidade. Como o Alibaba e o Taobao, sempre seguimos a teoria de que só depois de nossos membros ganharem dinheiro usando nossos mercados é que deveríamos ganhar dinheiro” (Jack Ma). Algum tempo após o discurso o Ebay fechou seu escritório na China e Taobao saiu vitorioso.

 

Antes de se unir ao Yahoo China, o Grupo Alibaba para se tornar conhecido no mundo usava muita publicidade e o principal local para onde seus anúncios eram direcionados era o Google. Considerando demasiado o número de anúncios que eram direcionados pelo “alibaba.com”, os CEOs do Google (Larry Page e Sergey Brin) foram à China e marcaram uma reunião com Jack Ma. Como era de se esperar todos do Alibaba ficaram ansiosos com a reunião, porém a reunião não foi tão boa, pois os CEOs da Google ficaram perguntando sobre o Alibaba e no final nem se despediram direito - essa reunião talvez tenha sido o mote para a junção do Grupo Alibaba com o Yahoo China.

 

Quando o site de buscas Yahoo China começou a ser administrado por Jack Ma (na virada de 2005 para 2006), o mesmo foi reformulado ficando muito parecido com o do Google tirando as reportagens da home do site, deixando somente o nome Yahoo China e a caixa de buscas. Isto não foi bem aceito pelo mercado Chinês e o acesso ao site caiu vertiginosamente, com isso pouco tempo após a mudança Jack Ma mandou voltar o site como era antes e acabou recebendo muitas críticas por isso. Na época da mudança o Yahoo China era o 2º site de busca mais usado da China perdendo para o Baidu e ganhando do Google, segundo Erisman 2017[6].

 

Outro momento complicado para Jack Ma foi em 2008 com a crise financeira[7] na bolsa. O grupo Alibaba tinha realizado seu segundo IPO (Initial Public Offering)[8] em 2007, sendo o primeiro na bolsa de Hong kong onde somente fez o IPO do ”alibaba.com” e o segundo na Nova York (NY) onde fez o IPO do grupo alibaba (alibaba.com, taobao, alipay entre outra empresas) e alcançando números inimagináveis para uma empresa até então pouco conhecida e sendo o maior IPO da bolsa de NY, porém com o estouro da crise as ações do Gigante Alibaba caíram muito rápido (quase 90%) para o desalento de todos da empresa e seus acionistas.

 

Esses pontos foram somente algumas dificuldades que o Alibaba passou, outras também ocorreram como o IPO da bolsa de Hong kong e vários outras. 
 
Atualmente o Grupo Alibaba é composto pelas empresas: Alibaba.com (1668.com), AliExpress, Taobao, Tmall, Aliyun, AliCloud, Ant Financial Services Group, Alimama, Juhuasuan, China Smart Logistics Network e Alibaba Pictures.

 

Segundo o The Wall Street Journal, por mais que o Alibaba tenha passado por diversos problemas ele sempre volta por cima e continua crescendo. Em 2013, o volume atingido em transações de sites do grupo chinês foi de US$ 240 bilhões (mais que o dobro do total movimentado pela Amazon e o triplo do eBay). O grupo é responsável por 60% de todos os pacotes entregues na China, de acordo com a The Economist.

 

Não demorou muito para o site ”alibaba.com” virar um queridinho do Brasil. Em 2013, quando foi traduzido para o português e o boleto foi introduzido como forma de pagamento, as vendas cresceram fortemente. Estima-se que ele movimente cerca de R$ 200 milhões por ano. Em julho de 2013, o grupo Alibaba assinou um acordo de cooperação com os Correios, para facilitar as transações comerciais entre o Brasil e a China, de modo a permitir principalmente que micro, pequenas e médias empresas tenham melhor acesso às opções de e-commerce chinês por meio da plataforma do Alibaba. De acordo com a Chinalinktrading, o Brasil é o terceiro maior mercado da Aliexpress, uma das empresas que formam o Grupo Alibaba (chinalinktrading2017).
Finalizo o artigo destacando o quão complicado é conseguir informações sobre o ”alibaba.com” e demais empresas do grupo devido ao grande controle da internet por parte do governo chinês, diante disso o presente artigo foi elaborado com base na leitura dos livros e sites que constam nas fontes no final.
 
Termino com uma frase de Jack Ma: “Hoje a situação está difícil. Amanhã será ainda mais difícil. Depois de amanhã será um dia lindo. Mas a maioria das empresas vai morrer amanhã à noite, sem ter a chance de ver o sol nascer depois de amanhã”.

 

Autor: Ricardo Vaz Torido (Analista Internacional e especialista em Comércio Exterior e Negócios Internacionais). É professor, seminarista e palestrante.

 

[1] POR DENTRO DO ALIBABA - Como a maior empresa de e-commerce do mundo está mudando os rumos dos negócios on-line. Autor: PORTER ERISMAN Editora: EDITORA BENVIRÁ.
[2] Uma arte folclórica tradicional que combina música com contação de histórias.
[3] O Lago do Oeste é um lago situado no centro de Hangzhou, na China. Famoso por suas paisagens e por seu patrimônio cultural. Possui pagodes, jardins e muitas construções históricas espalhadas por todo o lago.
[4] Bolha da internet ou Bolha ponto com e uma terminologia usada para um movimento especulativo nas ações das empresas de internet e tecnologia, o seu crescimento foi ao longo de 1990 e seu estouro em 10 de março de 2000.
[5] As empresas .com (ponto com), são aquelas que usam a internet para comercialização de produtos ou serviços.
[6] Devido ao rigor da internet na China não foram encontrados dados mais atuais.
[7] A Crise financeira de 2007–2008 é uma conjuntura econômica global que se sentiu durante crise financeira internacional precipitada pela falência do tradicional banco de investimento estadunidense Lehman Brothers, fundado em 1850.
[8] IPO (Initial Public Offering) é uma sigla para Oferta Pública Inicial (ou OPI). Como o próprio nome diz, é quando uma empresa vende ações para o público pela primeira vez.
 
FONTES:
As fontes acessadas para a construção do artigo em tela se deu durante o período de 03/01/2020 a 16/01/2020:
 
http://g1.globo.com/economia/mercados/noticia/2014/09/alibaba-e-40-questoes.html
https://economia.uol.com.br/noticias/bloomberg/2017/11/13/ascensao-da-alibaba-cria-10-bilionarios-alem-de-jack-ma.htm
https://forbes.com.br/negocios/2018/01/10-maiores-ipos-da-historia/#foto10
https://super.abril.com.br/comportamento/alibaba-e-os-250-bilhoes-de-dolares/
https://www.alibabagroup.com/en/about/businesses
https://www.chinalinktrading.com/blog/grupo-alibaba-comercio-eletronico/
https://www.chinalinktrading.com/blog/jack-ma-historia/
https://www.forbes.com/profile/jack-ma/#2df99f101ee4
https://www.tororadar.com.br/investimento/bovespa/ipo-o-que-e-como-funciona
https://www.traycorp.com.br/conteudo/plataforma-de-e-commerce-b2b-o-que-avaliar-para-escolher-a-ideal/
 
Livros utilizados para auxiliar na elaboração do artigo
Alibaba, a gigante do comércio eletrônico: O Império construído por Jack Ma
Autor: Duncan Clark
Editora: Best Business; Edição: 1ª (7 de outubro de 2019)
 
Alibaba - Estratégia de Sucesso
Autor: Ming Zeng
Editora: M.Books; Edição: 1ª (10 de julho de 2019)
 
POR DENTRO DO ALIBABA - Como a maior empresa de e-commerce do mundo está mudando os rumos dos negócios on-line
Autor: PORTER ERISMAN
Editora: EDITORA BENVIRA; Edição: 1ª (6 de outubro de 2017)