Just in Time x Just in Case
 
Just in Time x Just in Case: adaptados e modernizados
 
Abril de 2020
 
“Just in Time” (no momento certo, em português) é um sistema sincronizado de produção em fluxo e sem estoques. Proveniente da concepção japonesa toyotista – entre as décadas de 1960 e 1980 – esse sistema propõe que uma linha de montagem funcione de forma ordenada e que as peças e partes certas devem chegar sempre, e somente, na quantidade certa e no momento certo. Além de mitigar ou zerar custos com estoque, essa dinâmica de produção permite que a empresa aumente a qualidade de seus produtos, uma vez que as partes produtoras se tornam capazes de concentrar esforços na qualidade da fabricação. Contudo, a empresa limita sua capacidade de pronta-entrega para novos pedidos e aumenta seus riscos em tempos de baixa oferta de matérias primas.

 

Apesar de sua fácil compreensão, trata-se de um sistema muito bem definido e de difícil aplicabilidade na sua forma integral – o seu sucesso é totalmente dependente do Planejamento e Controle da Produção (PCP). O conceito, agora popularizado, como muitos outros, sofreu algumas remodelações espontâneas e se modernizou: muitas empresas o adotam de forma parcial, somente para algumas etapas da produção, ou de forma esporádica, em produções pontuais. O fato é que quando tratamos do tema “Just in Time”, podemos estar falando daquele modelo oriundo do Sistema de Produção Toyota, mais complexo, ou desse modelo popularizado, mais compreensível e adaptável.
 
Vamos tratar, portanto, do modelo popularizado, aquele que faz parte do cotidiano e é maleável. Tão maleável que conseguimos vê-lo e aplicá-lo até mesmo na nossa rotina. É comum irmos às compras para reabastecer nossa casa somente com aquilo que precisamos e que conseguimos manter por um certo período, até mesmo porque não queremos ocupar tanto espaço nos armários ou despensas e porque alguns produtos, os perecíveis, possuem prazos de validade curtos. Dessa forma, estabelecemos uma rotina de compras com base em nosso consumo, capacidade de estoque, prazos de validade e até mesmo acessibilidade – aquele que possui um supermercado do lado de casa consegue ser mais eficiente no “Just in Time caseiro”.

 

O ponto principal a ser observado é que a dinâmica avançada e bem estruturada da cadeia de suprimentos nos permite agir assim – empresas e pessoas comprando com certa regularidade aquilo que julgam ser necessário. Caso a disponibilidade para tal não fosse tamanha, a dinâmica certamente seria outra. As empresas e as pessoas passariam a estocar maiores quantidades de insumos.

 

Outro sistema de produção muito conhecido na administração é o “Just in Case” (no caso de, em português). Ao contrário do “Just in Time”, o “Just in Case” preza pela capacidade máxima de produção e, consequentemente, pela formação de estoque. O sistema funciona como uma forma de antecipar a demanda futura sob a forma de estoque para pronta entrega. Contudo, o sistema torna possível o acúmulo excessivo de estoque e, consequentemente, maior volatilidade de preços. Aqui, o sucesso também é totalmente dependente do Planejamento e Controle da Produção (PCP).
 
No âmbito doméstico – dentro de casa – também praticamos o “Just in Case” para algumas ocasiões, seja para a compra de alimentos não perecíveis seja para a compra de produtos de limpeza e higiene pessoal. Aqui também criamos uma lógica e uma rotina de compras para esses produtos.

 

Não há modelo certo e errado, mas sim aquele modelo que melhor se adequa à realidade de uma empresa – ou de uma família – naquele momento. Em tempos de ofertas e demandas altas, e com uma cadeia de suprimentos bem engrenada, a operacionalização de ambos se torna mais fácil. Contudo, quando há alteração em alguma das variáveis, a estrutura muda. Se há, por exemplo, alta oferta de matéria prima para uma indústria, mas baixa demanda por parte dos clientes desta, o sistema “Just in Time” se adapta melhor à intempérie, uma vez que não possui estoque acumulado. Contudo, se há baixa oferta de matéria prima e alta demanda por parte de seus clientes, o sistema “Just in Case” pode se mostrar mais eficiente, justamente por possuir estoque formado. Trata-se sempre do contexto e, por isso, as empresas devem estar suscetíveis a mudanças.

 

Não obstante, faz-se necessário pensar nos sistemas para além da produção e estoque e fazer uma analogia para as demais áreas de uma empresa – ou de uma casa. Cabe ao administrador gerenciar, também, os demais recursos para garantir a fluidez desses sistemas. É de extrema importância se questionar como estão se preparando financeiramente e se organizando logisticamente para tempos de intempéries: É possível se planejar para continuar trabalhando com capital próprio? A saída é trabalhar com capital de terceiros? Qual a disponibilidade de estoque atual? Por quanto tempo é possível trabalhar sem repor estoque de matéria prima ou sem fazer pausas na produção? São perguntas simples, mas que com boas respostas podem fazer a diferença.

 

Autor: Eduardo Melo Vidal
(Bacharel em Relações Internacionais pela PUC Minas; especialista em Comércio Exterior e Negócios Internacionais pela PUC Minas; mestrando em Ciência Política pela UFMG; Professor; Consultor).

 

REFERÊNCIAS

http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-75901990000300006